
A Cia Cinica Dança realiza trabalhos em artes cênicas nas ruas e em palcos, nos quais prioriza a dança, o teatro e a performance. Surge em Maceió/Alagoas, ano de 1998, na Universidade Federal de Alagoas, e, desde 2004, atua na cidade de Salvador/Bahia.
O nome do grupo faz referência aos CÍNICOS (Séc. V a.C - séc IV/V d.C). Escola de pensamento fundada em Atenas, herdeira do modo de vida socrático.
O nome da escola filosófica cínica deriva do ginásio de Cinosarges, onde Antístenes ensinava, outra explicação é a palavra cão (em grego xýon), aceita como um qualificativo elogioso, sendo o principal representante desta escola Diógenes de Sínope. Mais que uma doutrina, a antiga escola cínica constitui uma filosofia de vida; esta prega a vida segundo a virtude, conseguida através do exercício simultaneamente corporal e espiritual.
Atualmente, a Cia Cínica Dança desenvolve os projetos cênicos Entremeios - Dez Figurações, processo de pesquisa com microencenações, a partir das curtas representações dramáticas, entremeios ou figuras, presentes na dança do Guerreiro de Alagoas e os Cinocéfalos -intervenção urbana como um cortejo performativo a partir do estudo da Filosofia Cínica e a Pedagogia dos Monstros.

Filosofo cinico, copia romana original grego do século III, II a.C., Museu Capitolino de Roma.

OS CINOCÉFALOS - INTERVENÇÃO uRBANA
Esse trabalho possibilita o contato com parte da Filosofia Antiga (Cinismo), em permanente troca com a cultura contemporânea. O produto de uma variedade de morfogênese (indo do somático ao e étnico) que se alinham para atribuir significado ao Nós e ao Ele que está por detrás de todo modo cultural de ver, o monstro da abjeção reside naquela geografia marginal do Exterior, além do Pensável, um lugar que é duplamente perigoso: simultaneamente “exorbitante” e “bastante próximo¨(Butler).
A intervenção urbana surge como aprofundamento e viabilização da trajetória de doze anos de existência da Cia Cínica Dança. Ao trabalho de campo associou-se imagens de mendigos, cães e tantas aparições marginais de uma cultura contemporânea que exclui e inclui, circunscritos no “interior da intricada matriz de relações (sociais, culturais e litero-historica) que os geram”.

OS CINOCÉFALOS
FICHA TÉCNICA
Intérpretes-Criadores: CLÁUDIO ANTÔNIO E NILSON PATRICIO
Máscaras: MARCIA SOBRAL
Pesquisa Teórica: CLÁUDIO ANTÔNIO, NILSON PATRÍCIO e MARCIA SOBRAL
Barril Elétrico: ANTÔNIO ROSA
Figurino: NILSON PATRICIO
Vídeo: DIEGO SANTOS
FOTOS: CÁTIA ASSUNÇÂO

Entremeios Dez Figurações tornou-se projeto de mestrado encenado e finalizado com a dissertação: O Guerreiro Alagoano: Uma Pedagogia Multirreferencial, pelo Programa de Pós-Graduação em Artes Cênicas, da Universidade Federal da Bahia/PPGAC-UFBA, ano 2013/2015, sob orientação da profa. dra. Suzana Maria Coelho Martins.
Atualmente, (2017, 2021), Entremeios e Formação para a cena é um projeto de doutoramento, sob orientação da profa. dra. Eliene Benicio Costa, na Linha de pesquisa Matrizes Estéticas na Cena Contemporânea, no PPGAC-UFBA,
O espetáculo de dança em processo Entremeios: Dez Figurações objetiva a criação de dez solos performances/entremeios. Neste contexto, o espetáculo Entremeios, até o momento, compõe-se pelo Vídeodança Clorofila e quatro Solos Performances: (Borboleta- Zabelê/ A Sereia/ O Fúria e O Louco). O Mata Mosquito, o Messias, a Juana Baia, o Sapo e o Jaraguá, in progress, compõem a pesquisa do doutorado.
Entremeios são composições do intérprete criador Cláudio Antônio, dançarino formado pela Escola de Dança da Universidade Federal da Bahia-UFBA, licenciado em Pedagogia pela Universidade Federal de Alagoas-UFAL, Mestre e doutorando em Artes Cênicas pelo PPGAC-UFBA.
O artista evoca elementos do universo cultural e autobiográfico, incorporado ao seu interesse pela dança de autor e a pesquisa de campo com Mestres da dança tradicional: O Guerreiro Alagoano. Dessa experiência resulta um trabalho independente, que se utiliza das potências desses lugares de identidades, em permanente diálogo com as fronteiras das figurações/desfigurações da memória corporal.
Atualmente, em Salvador/Bahia, Cláudio Antônio, além de integrar a Companhia Cínica Dança, atua como profissional da pedagogia do movimento em oficinas e cursos livres para estudantes de dança, e na educação para pessoas com necessidades especiais. É nessa sensibilidade do entre-lugar e da educação pelo movimento que o trabalho de Cláudio Antônio como intérprete-criador constrói as figuras do imaginário particular e a vitalidade de suas coreografias.
ENTREMEIOS DEZ FIGURAÇÕES
FICHA-TÉCNICA:
Intérprete-Criador - Cláudio Antônio
Encenação e figurino - Nilson Patrício
Luz / Produção - Telma Gualberto
Clorofila videodança - Mirella Misi e música de Chris Heijens
Programação Gráfica visual - Marcia Sobral
Fotos - Marcia Sobral, Cláudio Manoel eTelma Gualberto
Projeto Entremeios e Formação para a Cena
ENTREMEIOLOUCO
È um netvideo de Cláudio Manoel Duarte que elege temas como dança e loucura como base filosófica em processos criativos. Tendo como eixo a Cia Cínica Dança com depoimentos dos artistas Cláudio Antônio e Nilson Patrício, pesquisadores da correlação entre a Filosofia Cínica e Dança. O vídeo é estruturado a partir de entrevistas e da performance do ator e dançarino Cláudio Antônio, que se inspira em Artaud, usando uma de suas glossolalias, numa revisão do Guerreiro Alagoano (folguedo alagoano) e o conceito de “desfiguração da moeda”, de Diógenes, como elementos de sua criação.
Entremeiolouco foi gravado e editado em baixa resolução (sd) para livre circulação em redes telemáticas e mobiles, com selo Creative Commons. Edição de Gleydson Públio. Duração: 13min33seg. É uma realização das parceiras O Imaginário é TV e Nosso Bolso Produção artistica.
Ficha Técnica:
CLÁUDIO ANTONIO
performance
NILSON PATRÍCIO
CLÁUDIO ANTONIO
depoimentos
CLÁUDIO MANOEL DUARTE
argumento, fotografia, direção e trilha original
CIA CÍNICA DANÇA
trilha da performance O Louco
GLEYDSON PUBLIO
edição
O IMAGINÁRIO É TV
realização
MEU BOLSO PRODUÇÕES ARTÍSTICAS
produção
agradecimentos:
TEATRO GAMBOA NOVA
CIA CÍNICA DANÇA
Duração: 13min33seg
gravado em SD
Salvador
(Bahia - Brasil)
2014
Entremeios: Dez Figurações
Clorofila VídeoDança
Parodiando Glauber Rocha: "Uma câmera na mão e um dança na cabeça"
Vídeodança realizado na reserva da Mata Atlântica da Escola de Dança da Universidade Federal da Bahia em 2009 por Mirella Misi com Cláudio Antônio e música de Chris Heijens
O Guerreiro Alagoano

Foto: Nilson Patricio, ano 2008
“A alma do Guerreiro é o Mestre, o Palhaço, o Mateus e o apito, assim como a alma da Baiana é o bumbo, o ganzá e a mestra, na Chegança o padre, os mouros e o apito”. Mestre Manoel Venâncio, In Memorian (1924-2008)
O Guerreiro é caracteristicamente alagoano e resume-se, principalmente, no entrelaçar dos Reisados, do Auto dos Congos, dos Caboclinhos, do Pastoril e o Bumba meu Boi.
Os Reisados são autos populares profano-religiosos formados por grupos de músicos, cantores e dançadores, que vão de porta em porta, no período de 24 de dezembro a 6 de janeiro, anunciar a Chegada do Messias, homenagear os Três Reis Magos, e fazer louvações aos donos das casas onde dançam.
No Brasil, o Reisado é espalhado em quase todo o território, com os nomes de Reis, Folias de Reis, Boi de Reis ou apenas Reisados. Sua principal característica é a farsa do boi, que constitui-se como um dos entremeios ou entremezes, onde ele dança, brinca, é morto e ressuscitado. Portanto, no sentido estrito, os Guerreiros são Reisados em Alagoas, além do próprio Reisado e o Bumba-meu-boi. A marca alagoana dos Reisados é que no Estado ele sincretizou (misturou-se) com o Auto dos Congos, que por si próprio já era um Reisado.
Em Portugal era costume os grupos de Janereiros e Reiseiros saírem pelas ruas pedindo que lhes abrissem as portas e recebessem a nova do Nascimento de Cristo. Os donos das casas recebiam os grupos e a eles ofereciam alimentos e dinheiro.
O Auto dos Congos é de origem africana, porém, recebeu uma forte influência ibérica. O Congo já era conhecido em Lisboa entre 1840 e 1850. É popular no Nordeste e Norte do Brasil durante o Natal e nas festividades de Nossa Senhora do Rosário e São Benedito.
A Congada é a representação da coroação do rei e da rainha eleitos pelos escravos e da chegada da embaixada, que motiva a luta entre o partido do rei e do embaixador. Vence o rei, perdoa-se o embaixador e conclui-se com o batizado dos infiéis. Os motivos dramáticos da Dança do Congo baseiam-se na história da rainha Ginga Bandi, que governou Angola no século XVII. Ela decidiu, certa vez, enviar uma representação atrevida ao rei D. Henrique, de Portugal. Seu filho, o heróico príncipe Suena, é morto durante essa investida. O quimboto (feiticeiro) o ressuscita. Na dança do congo só os homens participam, cantando músicas que lembram fatos da história de seu país. A congada é composta por doze dançarinos. O vestuário usado pelos componentes do grupo é bem colorido, cada cor tem o seu significado. Azul e branco são as cores de Nossa Senhora do Rosário. O vermelho representa a força divina. Os adornos na cabeça representam a coroa. O xale sobre os ombros representa o manto real.
Os Caboclinhos para Mário de Andrade em Danças Dramáticas do Brasil são danças de origens indígenas. O Caboclinho foi registrado pela primeira vez em 1584 pelo Padre Fernão Cardin, no seu livro "Tratado e Terra da Gente do Brasil". Pouco a pouco o Caboclinho ficou conhecido em vários estados e cidades como Recife, Olinda, Nazaré da Mata, Carpina, Tracunhaém, Camaragibe, São Lourenço, Paudalho. Nos estados de Alagoas, Paraíba e Rio Grande do Norte. A palavra “Caboclo” é utilizada para designar o índio ou o cruzamento de índio com o branco. "Caboclinho" são os filhos dos "caboclos". Existem vários grupos de caboclinhos. Suas danças ou evoluções variam de um grupo para o outro.
O Pastoril é o mais conhecido e difundido folguedo popular de Alagoas. É uma fragmentação do Presépio, sem os textos declamados e sem os diálogos. É constituído apenas por jornadas soltas, canções e danças religiosas ou profanas, de épocas e estilos variados. Como os Presépios, origina-se de autos portugueses antigos, guardando a estrutura dos Noéis de Provença (França).
Desta maneira, o Guerreiro incorpora por meio de cada uma dessas brincadeiras, elementos estéticos da matriz portuguesa (Reisados e Pastoril), da africana (Auto dos Congos), da indígena (Caboclinhos). Assim, através de sua narrativa, a brincadeira contempla elementos de cada uma dessas estéticas, por meio de suas peças (partes dançadas), embaixadas (partes declamadas) e seus entremeios ou entremezes, também chamados de figuras ou curtas representações dramáticas.
CONSTRUÇÃO ETNOGRÁFICA DA BRINCADEIRA
Estes dados fundamentam-se, principalmente, nas obras de Abelardo Duarte, Théo Brandão e Mário de Andrade, onde identificam a Brincadeira do Guerreiro como caracteristicamente alagoana e resume-se, principalmente, no entrelaçar dos Reisados, Auto dos Congos, Auto dos Caboclinhos e Pastoril.
Théo Brandão (1976:03) diz que:
“em Alagoas o auto sincretizou-se com outro folguedo, o Auto dos Congos ou Reis de Congos, sendo também um Reisado, passou a apresentar maior riqueza e encanto em sua indumentária, em sua música e coreografia, tornando-se assim diferente, em certos aspectos das versões de outros Estados”
O Guerreiro surge por volta de 1927 ou 1929, é o que nos indica Abelardo Duarte.[1] Otávio Brandão identifica o registro em Canais e Lagoas, cuja primeira edição data de 1919: "(..) Não tenho lembrança de haver visto dançar Guerreiro antes de 1930“.
O Guerreiro é uma dança mestiça das representações populares manifestado também nas cores, nos gestos e no significado pomposo de seus chapéus com brilhos, espelhos, pedras e fitas de variadas cores.
É importante destacar o fator de misturas na formatação da dança. Assim, a brincadeira aparece como mestiça e particularmente nova, pois, surge em registros entre os anos de 1927 e 1930.
Os chapéus são em maioria no formato de igrejas, catedrais e palácios.
A brincadeira do Guerreiro constituiu-se e permanece mestiça desde sua origem nos Reisados, que por sua vez, além dos Reisados, nele está incorporado elementos dos Reis de Congos.
Os Reisados consistem numa cadeia de eventos como Pedido de ‘Abrição' de Porta, Louvação ao dono da casa, louvação ao divino, Marchas de entradas, a Ceia, e por fim, a Despedida, eventos também presentes no Guerreiro.
Pelo cruzamento do Guerreiro com os seus dois mais importantes contribuidores, os Reisados e os Caboclinhos, a maioria de suas partes ou cenas alegóricas não coincidem apenas na temática, na sua música, em suas dinâmicas corporais, e em sua indumentária.
O drama é estruturado com uma semelhança aos Reisados, diferindo pela quantidade de figurantes, pela riqueza nas vestimentas e nas músicas. Os primeiros episódios são: Abrição, Louvações e Marchas de entrada e os dois últimos, Ceia e Despedida.
Os Entremeios ou (entremez curta representação burlesca) também são denominados de curtas representações dramáticas ou Figuras, eram apresentados dependendo muitas vezes da condição particular do mestre do folguedo. A supressão de um ou mais entremeios não altera, o funcionamento da brincadeira.
Neste conhecimento sobre o entremeio/entremez reside a característica de uma dança/solo/performance organizada pelo próprio indivíduo, que atua no processo de criação preparando seus personagens a partir de suas informações corporais.
A brincadeira desenvolve um assunto Guerreiro como seu próprio nome indica, dentro do espírito que rege as danças dramáticas populares do tipo chamado Reisados.
O episódio da guerra origina-se do Auto dos Congos. Assim, as informações provenientes de seus dados históricos e etnográficos, suas metáforas de guerras, assim como, a relação de disputa e negociação entre a vida e a morte, estão representadas no duelo entre os guerreiros.
No processo de hibridismo inverteram-se os papéis de alguns figurantes dos Caboclinhos e a admitiram-se outros dos Pastoris. Diz Abelardo Duarte que essa ocorrência cunhou uma distinta composição “de vez que essa inversão não estabeleceu nenhuma lógica no tema, fica-se diante de um drama quase sem nexo, onde os fatos são ligados por um ilógico enredo”. Cabe aqui a pergunta se realmente o enredo torna-se ilógico e sem nexo, visto que a brincadeira é rearanjada, reorganizada, reconfigurada.
Sobre os Caboclinhos também encontramos nota do mestre Theo Brandão:
“ – O auto dos Caboclinhos. Maceió. 1952 - Estudo exaustivo, nele transcreve peças do auto popular , opinando que, apesar do nome e da aparência ameríndia do auto, essa dança dramática é de origem ou influencia negra” ver no capitulo sobre sua bibliografia folclórica in ROCHA. José Maria Tenório. Theo Brandão. Mestre do Folclore. EDUFAL. 1988. Maceió
“ Descrevendo a nossa forma mais antiga de folguedo o Reisado ou Congos, afirma que na sua fase atualmente, ele é essencialmente um baile cantado, entrecortado aqui e ali, pelos entremeios ou entremeses, representações dramáticas mais ou menos curtas (...).
Quanto aos Guerreiros, que dá como surgido por cerca de 1927, opina ser ele fusão do Reisado com o Auto dos Caboclinhos cuja fusão vieram a se agregar fragmentos e personagens de outros folguedos como Pastoris e mesmo Cheganças.” (ROCHA,1988, p.102)
Grupo de Guerreiro Alagoano Mensageiro Padre Cícero

Mestre Manoel Venâncio de Amorin, In Memorian (1924-2008)
Foto: Cláudio Antônio ano 2006
Atualmente, o grupo de Guerreiro Mensageiro Padre Cícero está sob o comando do mestre André Joaquim (1947-), após a morte do mestre Manoel Venâncio em 2008.
O texto abaixo foi escrito a partir de uma entrevista com o Mestre Manoel Venâncio de Amorim, no ano de 2006, para o projeto de Iniciação Científica/PIBIc/CNPq: Epistemologia do corpo na Dança do Guerreiro Alagoano (2005/2006), sob orientação da profa Eloísa Domenici.
Refletindo sobre o corpo brincante, a professora Eloisa Leite Domenici diz que: " o corpo brincante traduz-se em epistemologias". Para esse conhecimento no corpo da dança do Guerreiro alagoano, encontramos o mestre Manoel Venâncio e seu Guerreiro Mensageiro Padre Cícero, como uma "espistemologia local". (Domenici. Eloísa Leite. Epistemologia do Corpo Brincante).
O grupo Mensageiro Padre Cícero disponibiliza enquanto cognição no processo de vivência, momentos de conhecimento que se produz e se traduz em cada corpo brincante dentro do barracão.
Neste contato com os brincantes do Guerreiro, principalmente, no compartilhamento do Mestre Manoel Venâncio de Amorim, (In memorian, 1924-2008) por meio da brincadeira pode-se fazer as seguintes indagações:
A brincadeira como ela acontece?
Que dinâmicas corporais são utilizadas?
Como são aprendidas e passadas estas dinâmicas?
Que conhecimentos podemos organizar, bricolar, abstrair, aproximar, participando da brincadeira?
O mestre Manoel Venâncio de Amorim anuncia o seu Guerreiro cantando a composição:
“Ô Maceió falado, to preparado, a minha rima é boa, a minha Alagoas / é o meu natural”.
Ele possui o seu Guerreiro Mensageiro Padre Cícero há 32 anos, em 1974 foi fundado, e costuma dizer sempre: “Este Guerreiro está provado”.
Na cidade de Cajueiro ainda rapaz integrou-se a um grupo de Reisado e lá aprendeu o Côco de Roda. Com o pai que era cantador de Pagode aprendeu a tocar viola, da viola passou para o pandeiro.
Na década de 1940 veio morar em Maceió tornando-se um grande Mestre do Côco Alagoano. Dizia com orgulho: “Quando morrer a cultura de Alagoas tá plantada”. Seus filhos participam da brincadeira do Guerreiro criada em 1974. O filho mais velho toca o zabumba, o filho que possui 10 anos é o Mateus, e a filha mais nova, com 06 anos e idade, é figurante.
O espaço de ensaio é uma palhoça no tamanho de 10,0 x 5,0 metros, com telhado enfeitado por bandeirolas azuis, vermelho e amarelo. O Mestre Venâncio fala como ele próprio fez o piso do espaço, orgulhando-se de o mesmo não ter sido destruído ou quebrado pelos sapateados, ou a chuva, ou o vento. A terra para construir o barracão foi doada pelo seu compadre falecido. Tudo é muito rústico, a palhoça possui telhado sustentado por pilastras de madeira, e, em cada um de seus lados um banco de madeira feito com paus enfiados no chão
Uma particularidade neste grupo diz respeito a integração de diferentes pessoas e idades. Durante os ensaios o Mestre espera as pessoas chegarem, aos poucos todos misturam-se, as crianças integram-se e brincam construindo sua própria alteridade. Assim, segue-se o ensaio deste Guerreiro e de maneira espontânea o aprendizado com os mais velhos. Eles recebem no fluxo do brincar o aprendizado das danças, as músicas e informações das mais variadas, históricas e estéticas que grudam no corpo do brincante e o acompanhará por toda vida. Não há preocupação em corrigir os passos, pois cada um adquire e adapta seu sapatear a dinâmica incorporada. O importante é chegar e brincar, resultando assim, em processos de aprendizagem, segundo o depoimento da maioria dos Mestres de folguedos: “brincando, se vive e se aprende” .
Ouvimos do Mestre Manoel Venâncio:
”Tem todo tipo de cultura, todo canto tem cultura, mais aqui é a raiz da cultura” e continua"
“A alma do Guerreiro é o Mestre, o Palhaço, o Mateus e o apito, assim como a alma da Baiana é o bumbo, o ganzá e a mestra, na Chegança o padre, os mouros e o apito”.
Neste sentido, Mestre Manoel Venâncio refere-se a riqueza dos folguedos alagoanos e do reconhecimento de fatos históricos relacionando-os a História do Brasil, da importância tradicional do apito durante o desenrolar de sua brincadeira que marca as passagens do evento e de suas peças e embaixadas, iniciando e encerrando as cenas, direcionando os brincantes e os músicos.
Em homenagem ao padre Cícero de Juazeiro, o nome do grupo passou a ser Guerreiro Mensageiro Padre Cícero. De 1974 a 2008, foi liderado pelo Mestre Manoel Venâncio, e, até os dias atuais está sob o comando do Mestre André Joaquim (1947-) .
O Mestre Manoel Venâncio destaca o trabalho desenvolvido por ele em escolas públicas de Maceió, Alagoas, onde ele ensina o Côco de Roda, denominado de Côco de Taipagem. Esta iniciativa, segundo ele, proporciona o aprendizado por novas gerações, permitindo que a brincadeira se renove, e também integra os Mestres da cultura popular no mercado de trabalho como arte educadores.
Mestre André Joaquim
REFERÊNCIAS
BRANDÃO, Theo. Folguedos Natalinos. Coleção folclórica da UFAL. Universidade Federal de Alagoas. Maceió. 1972.
___O Guerreiro. Boletim Alagoano do Folclore. In memorian. Théo Brandão. Comissão Alagoana de Folclore. Anos XXIII a XXXVII. Maceió/Alagoas. 1982.
CARVALHO. Luciana Gonçalves de. O Diabo e o Riso na Cultura Popular. Disponível em enfoques.ifcs.ufrj.br. Acesso em 20 Dez. 2014.
CAVALCANTI, Eliana. Imagens do Íris: Ballet Iris de Alagoas. EDUFAL. Maceió. 1999
COHEN, Renato. Performance como Linguagem. Perspectiva. São Paulo. 1989.
COULON, Alan. Etnometodologia e Educação, Tradução de Guilherme João de Freitas
Teixeira. Ed. Vozes. Rio de Janeiro/ Petrópolis. 1995.
DANTAS, Carmem Lucia. Folguedos e Danças de Nossa Gente Reisado e Guerreiro. Coleção Alagoas Popular. Fascículo 03. Jornal A Gazeta de Alagoas. Organização Arnon de Mello. Maceió. 2014.
DOMENICI. Eloísa Leite. A Pesquisa das danças populares brasileiras: por uma Epistemologia do Corpo Brincante. Revista Treco, nº 1. SP. 2005.
___“Estados corporais como Parâmetro de Investigação do corpo que dança”. Disponível em http://www.portalabrace.org/vcongresso/textos/pesquisadanca/Eloisa%20Leite%20Domenici%20-%20ESTADOS%20CORPORAIS%20COMO%20PARAMETRO%20DE%20INVESTIGACAO%20DO%20CORPO%20QUE%20DANCA.pdf. Acesso em 15 ago. 2013.
DOUXAMI, Christine. Estudo Fílmico e Antropológico do Guerreiro: Primeiras Reflexões. In Repertório Teatro & Dança. nº 11. Salvador. 2004. p.59-73.
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DURAND, Gilbert. Multidisciplinaridades e Heurística. tradução de Roberto Sidnei. In: